Estimad@s colegas e ativistas sociais,
Hoje assistimos a posse de Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Alguns pontos de seu discurso merecem reflexões conjuntas e eu proponho que a façamos aqui, no mundo virtual.
Como pessoa que torceu e fez, na medida do possível, campanha para o presidente americano, sinto-me na responsabilidade de pensar com vocês o que o seu discurso nos faz refletir, especialmente no que tange os direitos sexuais e direitos reprodutivos.
O discurso de Obama, como o discurso de vários presidentes atuantes na América Latina, segue uma narrativa populista, que o posiciona como o "pai" da nação, que tem a possibilidade (ou vontade) de prover para a "família". Desta forma, a família permanece como um tipo ideal em que a política busca modelos para seus discursos e diálogos com a população.
Outro ponto interessante é a nomeação da crise. Há uma crise e esta crise age em vários sentidos. Neste ponto, é interessante pensar que Obama compromete-se, na minha interpretação, com a assinatura do protocolo de Kioto e com a criação de alternativas de gasto energético. Mas esta crise não é só ambiental. Obama, numa espécie de "continuísmo" do governo Bush, propõe-se na luta contra o terrorismo. A história nos mostra como esta lógica atuou tanto para o combate ao terrorismo como para a legitimação de guerras por recursos materiais. Nesse sentido, há que observarmos atentamente para que caminhos a política de Obama seguirá no combate ao terrorismo. Que terrorismo é esse que ameaça a América na visão de Obama?
Entretanto, seria muito ingênuo pensar que Bush e Obama operam da mesma forma no que tange a luta contra o terrorismo, visto que Obama propõe o Iraque para o povo iraquiano e a paz no Afeganistão. Além disso, se posiciona como "amigo" dos países pobres. Para o presidente norte-americano, este país será amigo de todos aqueles que buscam a paz e a dignidade.
Ao mesmo tempo em que há o discurso da "amizade" entre os povos, há também um elogio a sua nação, próspera e construída com o trabalho de seu povo, vide juramento sobre a Bíblia. Se o cinismo é criticado por ele, há que o criticarmos pela crença ferrenha no progresso. Como a luta contra o terrorismo opera na lógica da guerra, a crença no progresso forma uma celeuma em que não sabemos claramente que progresso é esse e qual o destino ideal. Como disse Lyotard na década de 1980, o progresso pressupõe o não-progresso. Que não-progresso seria esse?
Sua proposta de governo, pelo que pude entender, será assentada fortemente no elogio ao trabalho e no combate a preguiça, o lazer e o ócio – discurso recorrente nos gestores do executivo americano. Há também um elogio ao estilo de vida americano, que não deve ser "desculpado" pelas críticas de outras nações. Entretanto, Obama pontua que o horizonte a ser vislumbrado é a "era da responsabilidade" e que o valor mais correto a ser seguido é a prudência.
A experiência com o governo Lula nos mostrou que os discursos "prudentes" também tem conseqüências. A prudência é para qual lado? Responsabilidade ou responsabilização? Seguindo a proposta de Obama, é com prudência que devemos agir quando falamos da nova gestão do executivo norte-americano. No último sábado uma das concorrentes a musa do carnaval no programa Caldeirão do Huck disse algo parecido com, "um outro mundo é possível, vide a eleição do presidente dos EUA".
Alguém tem informes sobre os compromissos de Obama com a luta feminista e LGBTTT?
Abraços fraternos,
Felipe