Alunos da rede pública estadual de SC vencem o Prêmio Escola da Unesco  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

Fonte: http://www.sed.sc.gov.br/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=247&Itemid=57  

Por Suely de Aguiar   
24 de outubro de 2007
Dois alunos de escolas da rede pública estadual de Santa Catarina, Roberta Maran Perines, 13 anos, e Ismailer Scottimi dos Santos, 17 anos, ficaram entre os primeiros vencedores no Prêmio Escola, que conta com a participação de estudantes de todo o país. Em sua 6ª edição, o concurso premia os melhores cartazes, confeccionados pelos estudantes, retratando a prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), AIDs e o uso de drogas. O tem central é "Como posso contribuir para a prevenção da AIDS? O aluno Clemari Santos, 27 anos, do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) de Videira recebeu menção honrosa.

Roberta, que conquistou o primeiro lugar na categoria Ensino Fundamental, estuda na Escola de Educação Básica Dr. Theodureto C. Faria Souto, do município de Dionísio Cerqueira e teve como orientadora a professora Elsa da Rocha. Ismailer é estudante do Ensino Médio da Escola de Educação Básica Ana Godin, de Laguna e contou com a orientação da professora Maria Isabel Henrique.

"Você tem acesso à prevenção? Chocolate é um presentão". A frase chama a atenção do cartaz sobre AIDS que rendeu menção honrosa a Clemari Santos, aluno do Ceja de Videira. A palavra AIDS aparece em destaque na parte superior do cartaz. À direita está a frase escrita em letras ornamentais e à esquerda o desenho de um casal, mostrando o namorando presenteando a garota com uma caixa de bombons.

O Prêmio Escola é promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef); Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (Unodoc), Fundo de População das Nações Unidas (UNFP) e o Programa Nacional de DST/AIDS (PN-DST/AIDS) dos Ministérios da Saúde e da Educação.

Para a gerente de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Estado da Educação, Elisabete Paixão, o fato dos estudantes catarinenses vencerem concurso de tamanha grandeza é mais uma prova de que o setor educacional de Santa Catarina continua sendo referência para os demais estados brasileiros. E saber que um jovem, que já saiu da adolescência mas não perdeu as esperanças de concluir a educação básica, recebeu menção honrosa é mais um motivo de orgulho para o Governo do Estado que luta pela universalização da educação em todos os níveis.

Homens gays ganham 23% menos que os casados, diz estudo  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

NOVA YORK (Reuters) - Os homossexuais masculinos, mas não as lésbicas, sofrem discriminação no trabalho e ganham até 23 por cento menos que os homens casados em alguns empregos, segundo um novo estudo feito nos Estados Unidos.
 
Pesquisadores da Escola de Negócios e Economia Whittemore, da Universidade de New Hampshire passaram dois anos estudando dados de trabalho e renda de 91 mil casais homossexuais e heterossexuais, recolhidos no censo norte-americano de 2004.

Eles concluíram que os homens homossexuais em cargos de gerência ou empregos de baixa qualificação ganham menos que os heterossexuais, por causa da discriminação dos patrões.

"Foi surpreendente ver como é consistente (a idéia) de que os homens gays tendiam a ser mais discriminados em profissões tradicionalmente dominadas por heterossexuais masculinos -operários, trabalhos braçais, postos de gerência também", disse pesquisador Bruce Elmslie, professor de economia da universidade, à Reuters.

O estudo concluiu que homossexuais que vivem com os parceiros ganham 23 por cento menos que os homens casados e 9 por cento menos que os heterossexuais que vivem com uma mulher.

Eles examinaram as dez ocupações com maior participação de homens e mulheres homossexuais, e concluíram que a discriminação ocorre mais claramente em ocupações tradicionalmente masculinas e de baixa qualificação, como construção, limpeza e manutenção.

Mas Elmslie e seu colega Edinaldo Tebaldi concluíram que as lésbicas não sofrem discriminação trabalhista em comparação com as colegas heterossexuais.

(Por Belinda Goldsmith)

Espaço B - 25/11: sessão de vídeo fala de amor, sexualidades e família  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

Na quinta, 25/10, o Espaço B exibe o longa C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor (C.R.A.Z.Y., 2005) do diretor Jean Marc Valée para embalar o bate-papo sobre amor, sexualidades e família.

25/10/07 - C.R.A.Z.Y . - Loucos de amor

C.R.A.Z.Y.(Canadá,2005), sucesso na Mostra de Cinema de São Paulo e no Festival Mix Brasil, foi também citado num texto de Contardo Caligaris como uma obra de utilidade pública. É a história de Zac, um garoto que se torna adulto e homossexual entre uma mãe religiosa, um pai banalmente machista e quatro irmãos.

O nome do filme vem das iniciais do nome dos cinco irmãos - Christian, Raymond, Antonie, Zac e Yvan - escolhidos pelos pais para que, quando alinhados, as iniciais formassem a palavra crazy. Desse modo, é de se esperar que o filme fale de família.

Inspirado nas experiências vividas pelo co-roteirista François Boulay, C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor não cai na fácil armadilha de reduzir seu roteiro à jornada de um rapaz rumo à descoberta de sua homossexualidade. Os conflitos são sutilmente pontuados ao longo da relação familiar e o filme acompanha a vida dos personagens entre amores e desafetos, sempre a partir do ponto de vista de Zac, que nasceu no Natal de 1960.

O filme fala também de uma época, cuja descrição fiel custou caro, especialmente em direitos autorais. A trilha sonora custou à produção cerca de 530 mil dólares. Para introduzir no filme todos os trechos musicais necessários, o diretor Jean-Marc Vallée precisou reduzir seu cachê. C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor também foi impedido de ser exibido nos Estados Unidos pelo alto custo dos direitos locais da trilha-sonora. Em uma das cenas marcantes do filme, Zac imita o estilo glam rock do cantor David Bowie, cantando Space Oddity. A direção de arte dimensiona a atmosfera da década de 60, 70 e 80, com mudanças nas roupas, nos penteados, nas músicas, nos objetos.



Resenhas (sites em português):

http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/cronica_ver.asp?id=1126

http://cinema.uol.com.br/ultnot/2006/11/23/ult26u22849.jhtm

http://www.guiadasemana.com.br/film.asp?ID=11&cd_film=1438

http://imagem_em_movimento.blogspot.com/2007/01/crazy-loucos-de-amor-crazy-de-jean.html

Onde: Espaço Impróprio - Rua Dona Antônia de Queiroz, 40 (travessa da R. Augusta no sentido centro, o Espaço fica entre a R. Augusta e a R. Frei Caneca)

Quando: quinta-feira, 25/10/2007, 19h

Atividade gratuita

Mais informações: (11) 3362 2361

Espaço B é uma das atividades mantidas pela Associação do Orgulho GLBT de São Paulo. Acontece às quintas-feiras, com periodicidade quinzenal. A proposta do Espaço B é ser um grupo de reflexão sobre (bi)sexualidades, reunindo pessoas de todas as idades, classes, credos, etnias, tribos, sexos, orientações sexuais ou identidades de gênero e que tenham interesse em encarar um tema sobre o qual ainda há muito preconceito e que pode permitir repensar valores. Acima de tudo, é um espaço a ser construído com a sua contribuição. - www.paradasp.org.br

O Espaço Impróprio é um centro (contra)cultural que segue os princípios do faça-você-mesmo. Todo o dinheiro arrecadado nas atividades é destinado a ajudar a manter o espaço físico (aluguel, contas, reformas) e viabilizar outros projetos (biblioteca, cybercafé, etc.). - www.improprio.org

Intervenção de Beto de Jesus na Out&Equal  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

Bom dia sou Beto de Jesus, ativista brasileiro, membro da ILGA – Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Pessoas Trans e intersexuais. Perdoem-me por não falar sua língua. Vou apresentar nossa situação na região latino-americana e caribenha.

 

Muitos avanços já foram conseguidos no sentido de assegurar que as pessoas de todas as orientações sexuais e identidades de gênero possam viver com a mesma dignidade e respeito a que todas as pessoas têm direito.

 

Algumas sociedades latino-americanas têm avançado muito na tolerância e respeito com a diversidade sexual, como também na não-discriminação baseada no sexo, na orientação sexual e na identidade de gênero. Ainda falta muito para fazer e nosso trabalho com ILGA aponta estabelecer propostas para uma agenda LGBTI latino-americana e caribenha na luta mais ampla contra a discriminação.

 

A discriminação por orientação sexual e identidade de gênero tem conseqüências na saúde sexual e física, e nos processos de mal estar mental (angustia, depressão e outros), mas além do HIV, que também ataca fortemente nossos países. A esses problemas relativos a saúde, cabe incluir outros danos sociais por homofobia, lesbofobia e transfobia: o isolamento, a marginalização e os crimes e atos de violência que afetam pessoas LGBTI, atos sobre os quais rara vez se investiga e condena os culpados.

 

Entretanto, violações de direitos humanos que atingem pessoas por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero, real ou percebida, constituem um padrão global e consolidado, que causa sérias preocupações. O rol dessas violações inclui execuções extra-judiciais, tortura e maus-tratos, agressões sexuais e estupro, invasão de privacidade, detenção arbitrária, negação de oportunidades de emprego e educação e sérias discriminações em relação ao gozo de outros direitos humanos. Estas violações são com freqüência agravadas por outras formas de violência, ódio, discriminação e exclusão, como aquelas baseadas na raça, idade, religião, deficiência ou status econômico, social ou de outro tipo.

 

Ao largo da história, a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero está ligada a numerosos crimes, que tem-se registrado no México, Brasil, Chile, Argentina, Peru e outros países da região. A impunidade generalizada destes crimes, conhecidos como crimes de ódio é coerente com os altos níveis de homofobia, lesbofobia e transfobia presentes em toda região.

 

Em 2007 ILGA fez um informe mundial das leis que proíbem a atividade sexual com consentimento entre pessoas adultas, não menos que 85 países membros das Nações Unidas seguem criminalizando os atos sexuais entre essas pessoas promovendo com isso de maneira institucional uma cultura do ódio.

 

Belize, Costa Rica, Guiana, Panamá, Jamaica e Nicarágua são exemplos onde se criminaliza a homossexualidade. Nicarágua tem o artigo 204 em seu Código Penal de 1992 que decreta que sofrerá pena de 1 a 3 anos de prisão quem cometer sodomia. Muitos de nossos ativistas estão sendo perseguidos por essa lei.

 

Tenho muitas preocupações com a situação de nossos países. Tenho também muitas perguntas e gostaria de dialogar com os participantes desta conferência, mesmo não falando inglês, e essa já é uma das preocupações.

 

Eu gostaria de saber se muitas organizações aqui presentes que apóiam esse evento estão no Brasil e na América Latina e Caribe e se apóiam nossas lutas? Temos em minha cidade (São Paulo) a maior Parada do Orgulho LGBTI do mundo, com mais de 3 milhões de pessoas. Mesmo assim muitas organizações não nos recebem para uma reunião.

 

Gostaria também de saber como podemos ter um dialogo mais interativo e franco com vocês, membros participantes desta conferência. Me preocupa que não vejo na agenda temas tão importantes para nossa luta, por exemplo:

 

1) Advocacy internacional nas Nações Unidas por uma resolução sobre orientação sexual e identidade de gênero;

 

2) Discussão sobre a Convenção Inter-americana contra o racismo e toda forma de discriminação e intolerância apresentada na OEA – Organização dos Estados Americanos;

 

3) Discussão sobre os Princípios de Yogyakarta que trata de uma ampla gama de normas de direitos humanos e sua aplicação nos assuntos de orientação sexual e identidade de gênero. Os Princípios afirmam a obrigação primordial dos países de implementarem os direitos humanos.

 

 

Estou aqui aberto e com muita vontade de aprender com vocês, numa busca de apoios para termos um mundo mais livre e justo com direitos garantidos para todas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Pessoas Trans e intersexuais do SUL e do NORTE.

 

 

Obrigado!

Curso Gratuito de Diplomacia Parlamentar  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

Introdução

O diálogo interparlamentar é uma das iniciativas de fundamental importância para a ampliação e fortalecimento da democracia e do processo de integração. A constatação de que ações no campo da política internacional não podem ficar adstritas ao Executivo vem gradativamente ganhando força junto aos Parlamentos e, por conseguinte ampliando sua ação nesse campo.

O curso Diplomacia Parlamentar, a distância via internet, visa contribuir com a intervenção dos parlamentares nas relações com a comunidade internacional, uma vez que para uma ação eficaz neste terreno é imprescindível conhecer preceitos e organismos internacionais onde se constroem as políticas e decisões.

A iniciativa é gratuita, realizada pelo Instituto Universitas com o apoio da Fundação Alexandre de Gusmão.

A quem se destina

Vereadores, deputados estaduais e federais, ou agentes do poder público envolvido com o diálogo internacional.

http://www.diplomaciaparlamentar.org.br/

Feminicídio no Congo  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

Por Eve Ensler  

Volto do inferno. Procuro desesperadamente uma maneira para lhes contar o que vi e ouvi na República Democrática do Congo. Procuro uma maneira para lhes narrar as histórias e as atrocidades, e, ao mesmo tempo, evitar que fiquem abatidos, chocados ou afetados mentalmente. Procuro uma maneira de lhes transmitir o meu testemunho sem gritar, sem me imolar ou sem procurar uma AK 47.

Não sou a primeira pessoa que denuncia as violações, as mutilações e as desfigurações das mulheres do Congo. Existem relatórios a respeito deste problema desde 2000. Não sou a primeira que conta essas histórias, mas, como escritora e militante contra a violência sexual contra as mulheres, vivo no mundo da violação. Passei dez anos a ouvir as histórias de mulheres violadas, torturadas, queimadas e mutiladas na Bósnia, Kosovo, Estados Unidos, Cidade Juárez (México), Quênia, Paquistão, Haiti, Filipinas, Iraque e Afeganistão. E, apesar de saber que é perigoso comparar atrocidades e sofrimentos, nada do que eu tinha escutado até agora foi tão horrível e aterrorizador como a destruição da espécie feminina no Congo.

A situação não é mais do que um feminicídio, e temos que a reconhecer e analisar como tal. É um estado de emergência. As mulheres são violadas e assassinadas a toda hora. Os crimes contra o corpo da mulher já são horríveis por si. No entanto, há que acrescentar o seguinte: por causa de uma superstição que diz que, se um homem viola mulheres muito jovens ou muito idosas, obtém poderes especiais, meninas de menos de doze anos de idade e mulheres de mais de oitenta anos são vítimas de violação.

Também é necessário acrescentar as violações das mulheres em frente de seus maridos e filhos. Mas a maior crueldade é a seguinte: soldados soropositivos organizam comandos nas aldeias para violar as mulheres, mutilá-las. Há relatos de centenas de casos de fístulas na vagina e no reto causadas pela introdução de paus, armas ou violações coletivas. Essas mulheres já não conseguem controlar a urina ou as fezes. Depois de serem violadas, as mulheres são também abandonadas por sua família e sua comunidade.

No entanto, o crime mais terrível é a passividade da comunidade internacional, das instituições governamentais, dos meios de comunicação... a indiferença total do mundo perante tal extermínio. Passei duas semanas em Bukavu e Goma entrevistando as sobreviventes. Algumas eram de Bunia. Efetuei pelo menos oito horas de entrevistas por dia. Almocei e fui a sessões de terapia com essas mulheres. Chorei com elas. O nível de atrocidades supera a imaginação. Não tinha visto em nenhuma parte esse tipo de violência, de tortura sexual, de crueldade e de barbárie.

No leste do Congo existe um clima de violência. Nesta zona as violações tornaram-se, tal como me disse uma sobrevivente, um "esporte nacional". As mulheres são menos do que cidadãs de segunda classe. Os animais são mais bem tratados. Parece que todas as tropas estão implicadas nas violações: as FDLR, as Interahamwe, o exército congolês e até as Forças de Paz da ONU. A falta de prevenção, de proteção e a ausência de sanções são alarmantes.

Passei uma semana no Hospital de Panzi, vivendo em uma aldeia de mulheres violadas e torturadas. Era como uma cena de um filme de terror futurista. Ouvi histórias de mulheres que viram os seus filhos serem brutal e cinicamente assassinados. Mulheres que foram forçadas, sob a ameaça de armas, a ingerir excrementos, a beber urina ou a comer bebês mortos. Mulheres que foram testemunhas da mutilação genital dos seus maridos ou, durante semanas, violadas por grupos de homens. Essas mulheres faziam fila para me contar as suas histórias. Os traumas eram enormes e o sofrimento extremamente profundo.

Sentei-me com mulheres que tinham sido cruelmente abandonadas por suas famílias, excluídas por causa do seu cheiro, e pelo que tinham sofrido. Eu quero lhes falar da Noella. Mudei-lhe o nome para a proteger porque ela só tem nove anos de idade. Noella vive dentro de mim agora, persegue-me, leva-me a agir, a lembrar. Ela é magra, muito inteligente e viva. O dano está no seu corpo ligeiramente torto, envergonhado, preocupado. Ela sente a ansiedade nos seus pequenos dedos. Começa a contar a sua história como se ainda vivesse. Para ela o tempo parou.

"Uma noite as Interahamwe vieram à nossa casa. Eles não deixaram nada. Pilharam nossa casa. Levaram a minha mãe para um lado, o meu pai para outro e a mim para outro. Levaram-me para o mato. Um deles pôs qualquer coisa dentro de mim. Não sei o que foi. Um disse para o outro, não faça isso, não faça mal a uma criança. O outro me bateu. Eu fiquei sangrando. Ele me bateu mais e eu caí. Depois me abandonou. Passei duas semanas com os soldados. Eles me violaram constantemente. Às vezes usavam paus. Um dia me deixaram no mato. Tentei caminhar até a casa do meu tio. Consegui, mas estava demasiado fraca. Tinha febre. Estava muito mal. Cheguei até a casa. O meu pai tinha sido morto. A minha mãe voltou, mas em muito mau estado. Comecei a perder a urina e as fezes sem controle. Depois minha mãe percebeu que eles tinham me violado e destruído. Eles registraram o que tinha me acontecido e me trouxeram para cá. Estou contente por estar aqui. Já não perco a urina e ninguém ri de mim. Os rapazes riem de mim. Já não tenho vergonha. Deus julgará aqueles homens, porque eles não sabem o que fazem. Quero me restabelecer. Também penso em como eles mataram o meu pai. Sempre que penso no meu pai as lágrimas caem pelo rosto."

O Dr. Mukwege, que, tanto quanto posso dizer, é um tipo de médico "santo" no hospital, disse-me que a uretra da Noella está destruída. Sendo tão jovem, ela não tem tecido suficiente para operar. Terá de esperar oito anos. Oito anos de vergonha e humilhação. Oito anos em que será forçada a recordar todos os dias o que aqueles homens lhe fizeram na floresta, antes dela ter idade suficiente para saber o que era um pênis. Ela é incontinente. O médico me disse: "O que acontece a essas jovens é terrível. Elas têm muito medo de serem tocadas por homens. Às vezes leva semanas até eu conseguir tratá-las. Dou-lhes bombons e trago-lhes bonecas."

As mulheres sofrem imensamente. Estão debilitadas pelas violações, as torturas e a brutalidade. Não têm praticamente apoio nenhum. Depois de viver essas atrocidades, são incapazes de trabalhar nos campos ou de transportar coisas pesadas, por isso deixam de ter renda. Vi chegar pelo menos doze mulheres por dia a essa aldeia. Chegavam mancando e apoiadas em bengalas feitas à mão. Várias mulheres contaram-me que "as florestas cheiravam à morte", e que "não se podia dar nem cinco passos sem tropeçar com um corpo".

Durante a semana que passei em Panzi, o governo cortou a água. Por isso, o hospital, onde havia centenas de mulheres feridas, ficou sem água. O mesmo hospital pelo qual as mulheres tinham andado mais de sessenta quilômetros porque não havia outro mais perto. O mesmo hospital onde não havia nada para comer, (duas crianças morreram por má nutrição em um dia), onde as mulheres tinham de ficar durante meses, às vezes anos, porque as suas aldeias eram tão perigosas ou porque eram tão rejeitadas, após terem sido violadas e desonradas, que não tinham um lugar para onde voltar, onde as mulheres não podiam apresentar queixa porque os violadores podiam facilmente comprar a sua saída da prisão, voltar e violá-las outra vez, ou matá-las.

E, enquanto nós estamos aqui escrevendo nosso relatório, há mulheres que estão sendo violadas, meninas que estão sendo destroçadas para sempre, mulheres sendo testemunhas do assassinato (a golpe de catana) de suas famílias, e outras que estão sendo infectadas pelo vírus da AIDS. Onde está a nossa indignação? Onde está a consciência das pessoas?

Em 1999, eu voltei aos Estados Unidos de uma viagem ao Afeganistão, ainda debaixo do poder dos talibãs. As condições das mulheres, a violência... era uma loucura. Dirigi-me a todas as pessoas que consegui encontrar, canais de televisão, revistas, líderes etc. Com exceção de uma revista, ninguém parecia estar interessado no problema das mulheres afegãs.

Naquela altura eu sabia que, se não se interviesse, se o mundo não se levantasse e ajudasse as mulheres, haveria graves conseqüências internacionais. Sabemos o que aconteceu depois. Não apenas o 11 de Setembro, mas a reação ao 11 de Setembro, a profanação do Iraque, a justificação dos ataques preventivos, o aumento da militarização e violência e o terror que ainda hoje continua a aumentar.

As mulheres são o centro de qualquer cultura e sociedade. Embora possam não ter poder ou direitos, o modo como são tratadas ou não valorizadas, indica o que a sociedade sente em relação à própria vida. As mulheres do Congo são resistentes, poderosas, visionárias e solidárias. Com poucos recursos elas poderiam ser líderes do país e tirá-lo do seu atual estado de desordem, pobreza e caos; ou podem ser aniquiladas e, com elas, o futuro do país. A República Democrática do Congo é o coração da África, o centro dinâmico e a promessa do futuro. Se se permitir a destruição das mulheres, mata-se a vida, não apenas do Congo, mas de todo o continente africano.

Eu estou aqui como artista e ativista, mas, sobretudo, estou aqui como um ser humano destroçado pelo que ouvi na República Democrática do Congo. Estou aqui para implorar àqueles que têm poder, para declarar estado de emergência no leste do Congo, para dar um nome ao que está sendo feito às mulheres: feminicídio. Para se unirem à nossa campanha internacional para parar as violações do melhor recurso do Congo, e dar poder às mulheres e jovens do Congo. Para desenvolver os mecanismos para proteger essas mulheres, para impedir esses crimes horrorosos e desumanos.

Recomendações para terminar
com a violência contra as mulheres
e jovens na República do Congo


A impunidade da violência sexual tem que terminar. Apesar de centenas de milhares de mulheres e jovens violadas, não houve, praticamente, nenhuma acusação. Incumbe a toda a comunidade internacional fortalecer mecanismos na República Democrática do Congo para assegurar que os violadores serão levados à Justiça, e as vítimas protegidas, através de ações judiciais. (Mais mulheres juízas, assim como mais mulheres na polícia e advogadas são essenciais para que isso aconteça).

Está previsto que membros do Conselho de Segurança vão à República Democrática do Congo na próxima semana. É importante que eles:

a) Falem com o Governo seriamente sobre o assunto da violência sexual. Devem abordar esse tema com o presidente, e perguntar, especificamente, o que ele está fazendo para assegurar que os militares (que são os que mais cometem esses crimes) não cometam crimes de violência sexual, e que os comandantes sejam responsabilizados pelas ações dos seus soldados, e que os soldados sejam também levados à Justiça.

b) Ao reunirem-se com o Parlamento e as autoridades eleitas, os membros do Conselho de Segurança devem insistir para que seja estabelecida uma comissão parlamentar sobre a violência sexual. Devem também apelar para que se inicie um debate público com o ministro da Defesa sobre esse tema.

c) A Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUC) deveria estabelecer uma unidade de combate contra a violência sexual, incluindo pessoal militar e civil, para dar prioridade à "resposta dada às sobreviventes de violência sexual e à proteção de mulheres e crianças, sobretudo em Goma e Bakuvu". Os países que contribuem com tropas também têm que ter um papel mais ativo, enviando mulheres como soldados da paz.

d) Os estados membros e as Nações Unidas devem mostrar o seu compromisso para terminar com a violência contra as mulheres da República Democrática do Congo através da atribuição de recursos financeiros significantes. Existem alguns bons projetos, por exemplo, o Hospital de Panzi, mas isso é muito pouco quando consideramos as enormes necessidades e a magnitude da violência. São necessários mais recursos, que poderiam ser usados para apoiar, por exemplo, programas de rádio/televisão realizados por mulheres sobre os direitos das mulheres, violência contra as mulheres, e outros temas importantes que precisam ser abordados para romper o silêncio sobre a violência sexual.

e) Os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas devem pedir ao secretário-geral que providencie um relatório sobre a situação da violência sexual na República Democrática do Congo. Esse relatório deve ser recebido pelo Conselho em tempo oportuno (três meses).

17/10/2007

Texto original divulgado em 15/06/2007

Este artigo foi traduzido do inglês para o português por Cristina Santos, membro de Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística, e revisada para ViaPolítica por Omar L. de Barros Filho. Ambas versões podem ser reproduzidas livremente, na condição de que sua integridade seja respeitada, bem como a menção ao autor, aos tradutores, aos revisores e à fonte.

Fonte: Tlaxcala

URL do original em português: http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=3924&lg=po

Para outras informações sobre o trabalho de Eve Ensler, visite V-Day

Leia também os artigos de Eve Ensler traduzidos para português em Tlaxcala


Mais sobre Eve Ensler

Convite para Ciclo de Palestras do NACI/UFRGS - 08 e 09 DE Novembro  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

O NÚCLEO DE ANTROPOLOGIA E CIDADANIA DA UFRGS (NACi/UFRGS) CONVIDA:

Ciclo de Palestras: Experiências, Dilemas e Desafios do Fazer Etnográfico Contemporâneo

08 e 09 de Novembro de 2007 - Campus do Vale/UFRGS

OBJETIVO: Reunir pesquisadores de diversos estágios do processo de formação profissional para discutir o exercício da antropologia e modo de prática antropológica, a partir de relatos de experiências. O interesse é debater, a partir de casos concretos, como a prática da etnografia é exercida. Visa-se, de um lado, possibilitar o compartilhamento de dilemas constitutivos do fazer antropológico, ampliando sua discussão e aproximando novos pesquisadores com o dia a dia da antropologia e, de outro lado, alimentar reflexões profícuas com a teoria antropológica e com a formação de conhecimento em antropologia social. O ciclo de palestras refletirá sobre a realização de etnografias em segmentos sociais singulares, tais como juízes, médicos e instituições públicas. Discutiremos as formas de inserção em campo, questões éticas e modos de transcrever a experiência de pesquisa em diários de campo. O evento também problematizará a abordagem etnográfica em trabalhos de campo de curta duração, realizados por demandas pontuais de instituições e agências governamentais. O eixo de interlocução entre as diversas discussões propostas é: desafios etnográficos e práticas antropológicas.

Coordenação:
Patrice Schuch, Miriam Steffen Vieira, Roberta Peters, Alinne Bonetti e Soraya Fleischer.

Apoio:
Departamento de Antropologia, Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UFRGS, FAPERGS, CAPES e CNPq.

PROGRAMAÇÃO


08 de novembro

- 14h sala Multimeios: Antropologia em Campos "Up"
Coordenadora: Miriam S. Vieira (NACi/UFRGS)
Debatedor: Pedro Nascimento (NACi/UFRGS)

Apresentadoras: Patrice Schuch (NACi/UFRGS): Pesquisa no campo judicial; Elizabeth Zambrano (NUPACS/UFRGS): Pesquisa com médicos; Lúcia Müller (PUCRS): Pesquisa com a bolsa de valores

- 18h sala Multimeios: Etnografias a Jato
Coordenadora: Fernanda Bittencourt Ribeiro (PUCRS)
Debatedora: Heloisa Paim (NACi/UFRGS e UFF)

Apresentadores: Daniela Knauth (NUPACS/UFRGS): Pesquisa no campo da saúde; José Otávio Catafesto (NIT/UFRGS): Laudos sobre comunidades indígenas; Vera Rodrigues (NACi/UFRGS): Laudos sobre comunidades quilombolas

09 de novembro


- 9h sala Multimeios: Fragmentos de Diários - Estratégias Narrativas, Retóricas, Éticas e Políticas para se In/Escrever o Fazer Etnográfico.
Coordenadora: Roberta Peters (NACi/UFRGS)
Debatedora: Alinne Bonetti (SPM/PR)

Apresentadoras: Miriam Vieira (NACi/UFRGS): Diário numa instituição do sistema de justiça; Ivan Paolo de Paris Fontanari (PPGAS/UFRGS): Diário de uma festa; Patrícia Claudia Fasano (NACi/UFRGS): Diário dos labirintos da fofoca num bairro popular

-
14h Panteon: Ética e pesquisa antropológica.
Convidada: Marlene Tamanini (UFPR)

Encerramento: Claudia Fonseca

Local:
UFRGS – IFCH/Campus do Vale. Av Bento Gonçalves, 9500.
Informações:
tel 3308 6867
Inscrições no primeiro encontro. Entrada Franca.

III VISOR: mostra de videoarte da FEEVALE/RS  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes



CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

Neste evento estará uma das grandes artistas plásticas que tive a oportunidade de conhecer, Rosa María Blanca.