Pós-Estruturalismo  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

O pós-estruturalismo pode ser caracterizado como um modo de pensamento, um estilo de filosofar e uma forma de escrita, embora o termo não deva ser utilizado para dar qualquer ideia de homogeneidade, singularidade ou unidade.

O termo "pós-estruturalismo" é, ele próprio, questionável.O pós-estruturalismo não pode ser simplesmente reduzido a um conjunto de pressupostos compartilhados, a um método, a uma teoria ou até mesmo a uma escola. E melhor referir-se a ele como um movimento de pensamento - uma complexa rede de pensamento – que corporifica diferentes formas de prática crítica. O pós-estruturalismo é, decididamente, interdisciplinar, apresentando-se por meio de muitas e diferentes correntes.

Como uma atividade francesa e predominantemente parisiense, o pós-estruturalismo de primeira geração é inseparável do milieu intelectual imediato que predominou na França do pós-guerra, em uma história dominada por forças intelectuais variadas: o legado das interpretações "existencialistas" da Fenomenologia de Hegel, feitas por Alexander Kojéve e Jean Hyppolite; a fenomenologia do Ser de Heidegger e o existencialismo de Sartre; a redescoberta e a "leitura" estruturalista de Freud, feitas por Lacan; a onipresença de Georges Bataille e Maurice Blanchot; a epistemologia radical de Gaston Bachelard e os estudos da ciência de Georges Canguilhem. Provavelmente o mais importante é que o pós-estruturalismo inaugura e registra a recepção francesa de Nietzsche, o qual forneceu as fontes de inspiração para muitas de suas inovações teóricas. E também decisiva para a emergência do pós-estruturalismo, sem dúvida, a interpretação que Martin Heidegger (1991/1961) fez de Nietzsche, bem como as leituras de Nietzsche feitas por Deleuze, Derrida, Foucault, Klossowski e Koffman, desde o início dos anos 60 até os anos 70 e 80.

O pós-estruturalismo é inseparável também da tradição estruturalista da lingüística baseada no trabalho de Ferdinand de Saussure e de Roman Jakobson, bem como das interpretações estruturalistas de Claude Lévi-Strauss, Roland Barthes, Louis Althusser e Michel Foucault (da primeira fase). O pós-estruturalismo, considerado em termos da história cultural contemporânea, pode ser compreendido como pertencendo ao amplo movimento do formalismo europeu, com vínculos históricos explícitos tanto com a linguística e a poética formalista e futurista quanto com a avant-garde artística europeia.

Foi, sem dúvida, central para a emergência do pós-estruturalismo a redescoberta, por um grupo de pensadores franceses, da obra de Friedrich Nietzsche. Foram importantes também a interpretação que Martin Heidegger fez dessa obra, bem como as leituras estruturalistas tanto de Freud quanto de Marx. Considerava-se que, enquanto Marx havia privilegiado a questão do poder e Freud havia dado prioridade à ideia de desejo, Nietzsche era um filósofo que não havia privilegiado qualquer um desses conceitos em prejuízo do outro. Sua filosofia oferecia uma saída que combinava poder e desejo.

A recepção estadunidense da desconstrução e a formulação do conceito de "pós-estruturalismo" no mundo de fala inglesa coincidem com o momento em que Derrida apresenta seu ensaio "A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas", no Colóquio Internacional sobre Linguagens Críticas e Ciências do Homem, na Universidade Johns Hopkins, em outubro de 1966. Richard Macksey e Eugenio Donato descreveram a conferência como "a primeira vez, nos Estados Unidos, em que o pensamento estruturalista foi considerado como um fenômeno interdisciplinar". Mesmo antes do término da conferência, havia claros indícios de que o reinante paradigma transdisciplinar do estruturalismo tinha sido superado, embora apenas um parágrafo das "Observações conclusivas" de Macksey assinalasse as "reavaliações radicais de nossos presssupostos [estruturalistas]" feitas por Derrida .

O humanismo tendia, como um motivo central do pensamento liberal europeu, a colocar o "sujeito" no centro da análise e da teoria, vendo-o como a origem e a fonte do pensamento e da acção, enquanto o estruturalismo, ao menos em uma leitura althusseriana, via os sujeitos como simples portadores de estruturas. Os pós-estruturalistas continuam, de formas variadas, a sustentar essa compreensão estruturalista do sujeito, concebendo-o, em termos relacionais, como um elemento governado por estruturas e sistemas, continuando a questionar também as diversas construções filosóficas do sujeito: o sujeito cartesiano-kantiano, o sujeito hegeliano e fenomenológico; o sujeito do existencialismo, o sujeito coletivo marxista.


Texto adaptado de Michael Peters "Estruturalismo e Pós-Estruturalismo".

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

This entry was posted on segunda-feira, julho 17, 2006 .