Fundamentalismo religioso polui a política do Rio
Pedido do Bispo Crivela, em troca de seu apoio no segundo turno, faz Sérgio Cabral retirar compromissos com a defesa dos direitos humanos
Ontem o candidato a Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral fechou acordo com o Bispo Crivela, candidato a governador derrotado no primeiro turno das eleições do Rio. O bispo da Igreja Universal do Reino de Deus passou a apóiá-lo no segundo turno das eleições.
Hoje o candidato Sérgio Cabral retirou em caráter definitivo o Projeto de Emenda Constitucional de número 70 de 02 de setembro de 2003, que altera o parágrafo terceiro do artigo 226 da Constituição Federal, para permitir a união estável entre pessoas do mesmo sexo. No vai e vem dos candidatos nas eleições do Rio o tema dos direitos de gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais (GLBT) foi utilizado como moeda de troca nesse acordo promíscuo entre Sérgio Cabral e o Bispo Crivela da Igreja Universal do Reino de Deus.
O candidato Sérgio Cabral é co-autor da lei 3786 de 2001, com o Deputado Estadual Carlos Minc, que concede o direito a pensão a companheiros do mesmo sexo de servidores públicos estaduais. Na ALERJ, quando deputado e presidente da Casa sempre atuou de forma protagonista, em parceria com outros parlamentares, na defesa dos direitos de GLBT e contra o fundamentalismo religioso, que insiste em misturar política com religião em nosso Rio, violando o princípio constitucional da laicidade do estado.
Já como senador, Sérgio Cabral participou e apoiou a Parada do Orgulho GLBT do Rio de Janeiro, que é hoje o maior ato político do Rio pela cidadania e direitos humanos, tendo reunido somente em Copacabana quase um milhão de pessoas em julho passado. No Estado, em todas as regiões, foram realizadas cerca de 20 paradas do Orgulho GLBT contra o preconceito e a discriminação e o fundamentalismo religioso mostrando a participação da sociedade nessa luta.
Ainda no primeiro turno reagimos ao crime que foi praticado contra o próprio candidato Sérgio Cabral e a outra candidata ao Governo do Estado Denise Frossard, como também contra Jandira Feghali candidata ao senado. Eles foram atacados covardemente com panfletos sem assinatura, criticando os candidatos por estarem associados à política dos direitos humanos, afirmando que os mesmos eram progressistas na defesa dos direitos dos homossexuais por isso devia haver um rechaço a eles.
Pesquisas realizadas no Rio de Janeiro apontam para a grave situação de violação aos direitos humanos e civis de GLBT. Na Pesquisa "Política, Direitos, Violência e Homossexualidade" de 2003 e 2004, de autoria da UERJ-Clam, UCAM-Cesec e Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual, envolvendo GLBT no Rio, revelou que 60% dos entrevistados já tinham sido vítimas de algum tipo de agressão motivada pela orientação sexual, confirmando, assim, que a homofobia se reproduz sob múltiplas formas e em proporções muito significativas. Homofobia é uma atitude de rejeição e violência contra homossexuais e candidatos comprometidos com um Rio para todos deve condenar tal prática.
Muitos GLBT que possivelmente votariam no candidato receberam com indignação a atitude contraditória de Sérgio Cabral. Ele cometeu um erro gravíssimo e poderá pagar por isso. O Rio Janeiro tem mais de um milhão de eleitores homossexuais e podemos definir uma eleição.