Discriminação contra gays pode virar crime
2006
Sábado, 25 de Novembro de 2006, 00h01
Discriminação contra gays pode virar crime
SORAYA BELUSI Jornal O Tempo - MG
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A comunidade GLBT teve nesta quinta-feira uma notícia que era aguardada com ansiedade. A Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que torna crime, com prisão de até cinco anos, discriminar gays, lésbicas, travestis ou qualquer pessoa por sua orientação sexual.
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Após aprovação na Câmara, o projeto segue para o Senado. A proposta aprovada pelos deputados acrescenta à lei de crimes de preconceito as categorias "gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero".
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Se o projeto virar lei, passa a ser crime qualquer ato homofóbico, como por exemplo, impedir o ingresso ou permanência de homossexuais em ambiente aberto ao público (confira o quadro). O projeto, de autoria da deputada Iara Bernardi (PT-SP), altera o artigo 140 do Código Penal, acrescentando no crime de injúria qualquer menção à condição sexual ou de gênero.
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E modifica, ainda, o Artigo 5º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), proibindo demissões ou qualquer discriminação no ambiente do trabalho.
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"O projeto transforma em crime punível com detenção qualquer ação discriminatória, com punições definidas para cada um dos casos", explica o deputado Luciano Zica (PT-SP), relator do projeto de lei na Comissão de Constituição e Justiça.
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O deputado ressalta que, embora o quórum fosse de apenas 30 deputados, o projeto foi aprovado sem nenhuma alteração. "A aprovação do projeto de lei era uma obrigação da Câmara. É a adequação do Brasil aos tempos que vivemos hoje. Não é uma revolução, mas uma conquista já natural nos países que realmente respeitam os valores democráticos", opina.
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A notícia foi comemorada pelos movimentos de luta pela causa GLBT, como a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT).
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"Estamos muito felizes com o resultado, e vamos fazer toda uma estratégia para garantir que seja aprovado também no Senado, para garantir de uma vez por todas que o país dê uma resposta à homofobia", defende Cláudio Nascimento, secretário geral da ABGLT, membro do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e coordenador de articulação política do Grupo Arco-Íris, do Rio de Janeiro.
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Cláudio Nascimento aponta alguns pontos que podem ter levado à aprovação do projeto de lei. "Este ano, foram realizadas 160 Paradas do Orgulho Gay em todo o Brasil e todas tinham como tema central a aprovação da lei de criminalização da homofobia. Reunimos 7 milhões de pessoas nas paradas, entre homossexuais e heterossexuais. Uma grande parcela da população dizendo não à homofobia", relata.
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"Esperamos agora que o Senado siga a mesma coerência. E, para isso, vamos nos articular nos Estados para reforçar a Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual", completa. Ainda que a proposta seja aprovada no Senado, Cláudio Nascimento alerta que ainda há muito a fazer.
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"Temos que fazer com que ela seja cumprida, garantir que seja amplamente divulgada para que as pessoas saibam os seus direitos e cobrar do Estado para que crie instrumentos para sua aplicabilidade".