Preso, candidato travesti do PT tem a cabeça raspada e divide cela com 12 homens  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

19/09/2008 - 21h30

Marcus Vinicius Gomes

Especial para o UOL

Em Curitiba

Preso desde domingo (14), acusado de dano ao patrimônio público, o travesti Andrielly Vogue (PT), 32 anos, disputa uma cadeira na Câmara Municipal de Curitiba e pode receber a liberdade provisória nesta segunda-feira (22).
Andrielly, cujo nome verdadeiro é José Adriano Elias, foi preso em flagrante, no domingo, após quebrar o vidro de uma janela do IML (Instituto Médico Legal), no centro de Curitiba.
  • Denis Ferreira Netto

    O travesti Andrielly Vogue (PT)


Segundo Ricardo Tadao, um dos advogados do PT, Andrielly teria socorrido uma vítima de agressão no pátio do IML e correra para chamar ajuda. Ao bater no vidro da janela, no entanto, ele se partira.
O processo de Andrielly foi encaminhado para o Ministério Público e deveria ser apreciado na Vara de Inquéritos em Curitiba nesta sexta-feira (20). Um entrave burocrático, no entanto, atrasou o julgamento. 
Como a Justiça exige que o acusado tenha um endereço fixo para que seja liberado, o diretório do PT municipal enviou uma declaração, anexando nela a ficha de filiação de Andrielly para comprovar sua residência. 
"Andrielly está presa e não tem qualquer conta de telefone, água ou luz em seu nome. A solução encontrada foi o PT assumir a responsabilidade e encaminhar a ficha de filiação do candidato, onde consta o seu endereço", afirmou Tadao.
Desde que foi preso, o travesti já passou por três celas. Primeiro foi encaminhado ao Centro de Triagem de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, onde teve o cabelo raspado. Depois foi transferido para o Centro de Detenção do Bairro Ahú e encontra-se agora na ala masculina do Centro de Detenção de São José dos Pinhais, também na Grande Curitiba, onde divide a cela com outros 12 detentos homens.
Na quinta-feira (19), a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais) divulgou "nota de solidariedade" ao candidato petista, onde protesta contra o tratamento a ele dispensado e reivindica uma cela especial.
Segundo o presidente da ABGLT, Toni Reis, ao ser preso, Andrielly não "teve a sua identidade de gênero respeitada". "Eu o visitei na cadeia, ele está abalado emocionalmente e extremamente vulnerável", afirmou.
O advogado Ricardo Tadao diz que a proibição da prisão de candidatos, que entra em vigor neste sábado (20), não se aplica ao travesti, já que ele foi detido antes da data estipulada e a prisão ocorreu em flagrante.
De acordo com Tadao, caso não obtenha a liberdade provisória, Andrielly pode permanecer no centro de detenção por até 30 dias.

Estigma
No início do horário eleitoral gratuito, em 19 de agosto, o travesti gravou participação que acabou não indo ao ar, em que recomendava aos eleitores gravar o seu número da seguinte maneira: "13 de PT, zero e 24 de viado". Reis, no entanto, censurou a idéia e aconselhou Andrielly a pedir o voto do eleitorado com mensagens de prevenção à Aids e contra a homofobia.

This entry was posted on domingo, setembro 21, 2008 .