Os GLBT e o novo quadro eleitoral no Congresso  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

Os GLBT e o novo quadro eleitoral no Congresso
 
1- Eleição do Clodovil, primeiro gay assumido eleito deputado Federal, com quase 500 mil votos

Clodovil é um comunicador experiente e polemico. Há muitos anos na TV brasileira se comunicando com diversos públicos e captando as opiniões desses, ele soube se aproveitar bem desse carisma construído. Ele tem um discurso bastante conservador frente às questões de família, homossexualidade e direitos humanos, mas ao mesmo tempo tem uma posição sincretista diante das religiões e assume a homossexualidade. Penso que o Movimento GLBT precisará apresentar para ele sugestão de ações para o seu mandato e buscar se aproximar dele para que seja mais um membro da Frente Parlamentar Mista pela Livre Expressão Sexual. Tomara que Clodovil se projete como um parlamentar atuante defendendo bandeiras dos direitos humanos e dos homossexuais, e não como mais um. Preocupa-me a sua posição conservadora e espero que essa não seja utilizada para fazer frente contrária aos projetos de lei favoráveis à cidadania de GLBT. O Brasil precisa se alinhar aos países que vem tomando medidas nesse sentido e o papel de parlamentares fundamental para isso. Ele é inteligente. Espero que não se deixe ser utilizado como um bobo da corte. Assumir a homossexualidade não pode ser único requisito para se apoiar ou não um candidato ou um parlamentar, mas que isso, é preciso história, prática política e propostas de ações comprometidas com a cidadania.

2. Nova câmera dos deputados, depois de 01 de outubro.

É uma pena ver parlamentares super atuantes na frente não terem conseguido se eleger para a próxima legislatura. São Paulo perdeu muitos parlamentares de destaque na agenda política nacional pelos direitos de GLBT e em outros estados em menor grau. No Rio, por exemplo, a Jandira Feghali deputada federal disputou e perdeu a disputa para o Senado Federal. Jandira recebeu apoio integral de ativistas de vários movimentos sociais, inclusive de GLBT, mas a pressão religiosa contra a candidata e os recursos milionários para a candidatura de Dornelles a colocou em segundo lugar. Já Laura Carneiro perdeu por causa das denúncias de seu envolvimento na operação das sanguessugas. Porém vale lembrar que reelegemos vários parlamentares da Frente como Fernando Gabeira (PV-RJ), Fátima Bezerra (PT-RN), Maria do Rosário (PT-RS), Dr. Rosinha (PT-PR), Chico Alencar (PSOL-RJ), Nelson Pelegrino (PT-BA) e novos parlamentares que já atuam na defesa dos direitos dos GLBT em seus estados. Posso citar, por exemplo, a eleição dos deputados estaduais Cida Diogo (PT-Rio) e Paulo Teixeira (PT-SP) que assumem uma vaga na Câmara Federal.

3. O novo cenário e as perspectivas para o movimento GLBT brasileiro.
 
Bem eu sou um otimista. Já atuamos em outros quadros muito mais complexos. Em novembro a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros fará em Maceió um congresso nacional para definir sua estratégia de atuação política para o próximo ano. Será feito debate sobre o quadro legislativo e como vamos atuar para recompor as nossas forças no Congresso Nacional. É fundamental que os eleitores e ativistas homossexuais de cada estado façam um levantamento mais detalhado sobre o perfil de cada parlamentar eleito e depois o identifique como aliado, possível aliado ou adversário. A partir desse mapa elaborado os eleitores e ativistas GLBT devem buscar a reafirmação de apoio dos já aliados e sua participação na frente, e aglutinar em torno da Frente novos parlamentares. Com isso, acho que poderemos ter um grande número de deputados na Frente. Considero também fundamental uma campanha de opinião pública para sensibilizar a sociedade de nossa agenda contra a discriminação. Vamos ter que aumentar a nossa mobilização política junto a Câmara para que nossa voz seja ouvida. Forçaremos ainda nessa legislatura que o projeto de lei de criminalização da homofobia da deputada Iara Bernardi seja colocado em votação já que está entre os cinco itens da pauta da Câmara. Nossa prioridade na agenda legislativa para 2007 continuará sendo a luta pela aprovação dos projetos de criminalização da homofobia e do reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Claudio Nascimento
35 anos, há 18 anos no movimento GLBT.
Secretário de Ações para os Direitos Humanos da ABGLT
Membro do Conselho Nacional de Combate a Discriminação
Membro do Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual
Cidadão Honorário da Cidade do Rio concedido pela Câmara de Vereadores do Rio
Ganhou a Medalha Tiradentes concedido pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro

This entry was posted on terça-feira, outubro 03, 2006 .