Blog da Semana da Revista Época: Famílias Gays  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

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Escrito por Miriam Grossi - 21/01/2007
Car@s leitor@s
Como pesquisadora e participante de uma rede internacional de estudos sobre parentalidades homossexuais parabenizo a Revista Época pela excelente reportagem a respeito de adoção por casais de gays e lésbicas. Trata-se de reportagem séria, com dados atualizados sobre a família no Brasil e abordagem respeitosa em relação ao desejo de casais de gays e lésbicas de formarem família adotando conjuntamente filhos.
Evidentemente questões que dizem respeito a conjugalidade, família, reprodução e filiação remetem inevitavelmente aos modelos de família que tivemos e/ou nos são apresentadas como corretas e verdadeiras nos grupos sociais onde vivemos.
Os comentários realizados por quase duzentas pessoas em menos de 48 horas no blog da Revista Época apontam para duas grandes posições, presentes hoje na sociedade brasileira a respeito do reconhecimento da cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros: a maioria dos comentários emana de posições que reconhecem que todos os brasileiros, independente de orientação sexual deveriam ser iguais perante a lei, e uma minoria dos comentários apelam para um modelo de uma suposta família brasileira tradicional, composta por pai/mãe e filhos biológicos.
Os dados do IBGE, apresentados na reportagem, mostram que menos de 50% da população brasileira vive neste modelo tradicional de família. Com base nestes dados não se pode dizer que haja hoje um único modelo de família no Brasil, uma vez que é imenso o numero de mulheres que cuidam sozinhas de seus filhos (na maior parte das vezes sem receber qualquer ajuda material ou afetiva dos ex-maridos) e já é significativo o numero de pais que fazem o mesmo; sem falar de crianças criadas por avós, tios e madrinhas, pratica corrente tanto em famílias de classes populares como em famílias de camadas médias urbanas.
Alguns questionamentos feitos pelos participantes do blog a respeito da "continuidade da espécie" pela "impossibilidade de reprodução entre pessoas do mesmo sexo" nos remete também ao fato de que hoje, graças ao desenvolvimento das novas tecnologias médicas de reprodução, não são poucos os casais heterossexuais que buscam ter filhos através de reprodução in vitro, dado que mostra que nem todos os filhos de casais heterossexuais são "naturais".
É portanto, no bojo destas transformações da família no Brasil que devemos buscar entender e aceitar o crescente desejo de casais homossexuais em terem filhos e ser respeitados enquanto cidadãos com os mesmos direitos de todos.
Miriam Pillar Grossi – Universidade Federal de Santa Catarina
 
Miriam Grossi é antropóloga, autora do estudo Gênero e Parentesco: Famílias Gays e Lésbicas no Brasil
 
Para ver o Blog acesse: http://www.epoca453.globolog.com.br/

This entry was posted on segunda-feira, janeiro 22, 2007 .