30-08-2007 14:28:49 - Coletânea debate novos arranjos familiares e parcerias numa perspectiva transdisciplinar
Os novos arranjos familiares, as novas parcerias e seus sentidos são motivos de debates no Brasil e em vários países. Colaboram para discutir, repensar e ampliar questões como maternidade, paternidade, casal, família e amor fora da norma heterocêntrica. No Brasil, este debate vem crescendo e ganhando espaço na sociedade civil. A contribuição acadêmica tem sido inestimável para o diálogo no espaço das discussões e propostas de leis e conquistas de direitos, sempre proporcionando a construção de novos olhares sobre estes temas. Conjugalidades, Parentalidades e Identidades Lésbicas, Gays e Travestis - coletânea, organizada pelos professores Miriam Grossi, Anna Paula Utziel e Luiz Mello, com sua perspectiva transdisciplinar, reúne reflexões de áreas da Psicologia, Direito e Ciências sociais, em estudos realizados no Brasil, Argentina, Chile, Espanha e França.O livro está dividido em três partes: em Conjugalidades, nove artigos mantêm o enfoque transdisciplinar. Há, por exemplo, um deles discutindo "amor e ódio em relações conjugays"; outro discorre sobre acórdãos judiciais e entrevistas com magistrados sobre conjugalidades homoeróticas em quatro estados brasileiros. Como foi o processo espanhol – um relato do percurso do "perigo social" à plena cidadania é tema de outro artigo. Um outro artigo, das professoras Anna Paula Utziel e Miriam Grossi, organizadoras do livro, tem como tema o debate francês sobre parceria civil e homoparentalidade.
Em Parentalidades – sete artigos compõem a segunda parte da coletânea - há o instigante artigo, da chilena Florencia Herrera, sobre a outra mamãe – um debate sobre as mães não biológicas nos casais de lésbicas. O artigo Não podemos falhar debate as pressões pela busca da normalidade em famílias homoparentais. Outra importante contribuição discute A homofobia na representação de mães heterossexuais sobre a homoparentalidade. Como o tema tem sido tratado na mídia é o enfoque de Elizabeth Zambrano ao discutir a homoparentalidade na pauta do jornal Folha de S. Paulo.
A terceira parte tem como tema Identidades Lésbicas, debatida em três artigos. Lenise Borges, em Lesbianidade na TV: visibilidade e apagamento em telenovelas brasileiras, discorre sobre o esforço dos autores de novela em contribuírem para a construção de um novo olhar sobre a lesbianidade e as dificuldades enfrentadas. Lenise faz um percurso histórico sobre o aparecimento do tema em telenovelas da Rede Globo. "Vale Tudo" (1988-1989) foi a primeira novela a tratar do tema. Duas mulheres bem-sucedidas, Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska), têm uma relação, mostrada de forma discreta. Cecília morre em acidente de carro e vem daí a grande contribuição da novela, que além de dar visibilidade ao casal, discutiu direitos, já que as duas personagens eram proprietárias de uma pousada. Após uma luta na justiça, Laís tem seus direitos reconhecidos e retoma sua vida amorosa com Marília (Bia Seidl).
Dez anos depois, em "Torre de Babel" (1998-1999), Rafaela (Cristiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) formam um casal de empresárias cuja relação era mostrada de forma direta. As reações do público foram tão impactantes que as personagens tiveram um final trágico e antecipado, na trama da novela, morrendo numa explosão do shopping center onde possuíam uma loja.
Em Mulheres Apaixonadas, o casal de lésbicas era bem jovem e as personagens estudantes: Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli). A relação foi sendo mostrada pouco a pouco, evidenciando os conflitos das personagens e as reações dos outros personagens à relação delas. O interessante é que para a cena final – da primeira telenovela em que o casal de lésbicas consegue sobreviver – para que fosse mostrado um beijo, Manoel Carlos, o autor, criou uma cena na qual Clara interpretava Julieta e Rafaela Romeu - revivendo a tragédia shakesperiana. Usando deste subterfúgio a visão do beijo ficou "digerível" para os espectadores.
Senhora do Destino (2004-2005) avançou mais ainda. Foi a primeira novela que mostrou cenas íntimas entre a personagem da médica Eleonora (Mylla Christie) e a estudante de Fisioterapia Jenifer ( Bárbara Borges). Também inovou ao introduzir o tema da adoção. Preparando cuidadosa e empaticamente o público, a médica encontra um bebê no lixo. Eleonora e Jenifer iniciam um processo de adoção conjunta do bebê, dando visibilidade não só ao casal, mas ao tema dos direitos civis dos homossexuais à homoparentalidade.
Nas quatro novelas, analisa Lenise, as personagens são representadas por mulheres bonitas, elegantes e apaixonadas, aproximando-se, do que se denomina como perfil lesbian chic .
O livro é leitura imprescindível para quem se interessa ou faz destas questões objeto de estudo. Oferece um amplo painel de pesquisas e consegue a proeza de reunir artigos instigantes, mas de leitura agradável, sobre temas tão polêmicos.
Serviço
Conjugalidades, Parentalidades e Identidades Lésbicas, Gays e Travestis -
Miriam Grossi, Anna Paula Uziel e Luiz Mello, organizadores – Editora Garamond, 2007.
Lançamento: Dia 5 de setembro, quarta-feira, às 18h45min – Momento chá e troca de Idéias, integrando a programação do Seminário Homofobia, Identidades e Cidadania LGBTTT.
Informações: 3721-9890 ramal 25 – nigsnuc@cfh.ufsc.br
Programação do seminário: www.nigs.ufsc.br/seminariolgbttt
Por Alita Diana/jornalista da Agecom
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on domingo, setembro 02, 2007
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