Fonte: http://www.revistascienciaevida.com.br/exibe_news_psique.php?id=48 |
Entrevista concedida à Anna Melo Para os transexuais Bela e Fernando (nomes fictícios, relatos verdadeiros), somente após a realização da operação o problema de identidade pôde ser sanado e a cura concretizada, pois quem nasce transexual experimenta, desde os primeiros dias de vida, uma angústia e uma insatisfação que podem durar para sempre caso não encontre ajuda médica e jurídica para existir em harmonia. "Desde muito pequena eu percebi que havia alguma coisa errada comigo. Não gostava de ficar e brincar com o grupo que haviam determinado para mim – os meninos – eu não conseguia me adaptar. Por outro lado, ficava muito à vontade quando estava no grupo das meninas. Isso se repetia no modo de me vestir, de agir e tudo mais", conta Bela. A garota passou por muitos conflitos e aos 18 anos resolveu procurar ajuda médica. "Foi quando chamei meus pais e disse que não era um homem. Fomos procurar ajuda, passei por dois psicólogos e um médico, até chegar ao HC. Só então fiquei sabendo sobre transexualismo". Bela não precisou fugir nem se esconder, pois sua família sempre a aceitou e hoje se sente muito feliz. "Não tenho problemas em encontrar os meus amigos, continuo morando onde sempre morei. Conquistei o respeito de todos. Com muito esforço e choro, mas acima de tudo, com o cuidado de Deus". Ela fez a cirurgia depois de sete anos de terapia e espera a regularização de sua documentação. "A empresa em que eu era empregada fechou, desde então não consigo emprego. Fiz diversas entrevistas. Em algumas antes de me solicitarem os documentos eu explicava a situação e em outras só revelava o problema quando me solicitavam a documentação. Mas nas duas situações sempre davam um jeito de me negarem o emprego". Fernando sempre quis brincar com carrinhos, olhava as meninas com entusiasmo e adorava jogar futebol. "Descobri que era transexual desde criança, sempre brincava com brinquedos de menino, empinava pipa, jogava bola", conta. Com o tempo o garoto percebeu as diferenças e já imaginava fazer algo para mudar. "Aos 10 anos queria fazer a cirurgia para implantar um pênis e resolver meus problemas", revela. Na época estudava e agia como acreditava ser. "Até que um dia pediram para que minha mãe me levasse ao psicólogo". Nessa época Fernando tinha uma namorada. "Sempre olhei para as meninas, sonhava em namorar, casar e ter filhos, só que com mulheres", conta. Por não mudar seu comportamento, foi expulso da escola e seus pais não queriam aceitá-lo. Saiu de casa aos 18 anos, aprendeu a morar sozinho e não demorou a começar a trabalhar. Quando completou 31 anos conseguiu mudar sua documentação. Hoje é casado e vive muito bem com a esposa. "É uma mulher maravilhosa, conversei com ela após o primeiro encontro e fui aceito. Somos casados há quase seis anos", comemora. Os documentos de Fernando estão corretos há sete anos e o processo de regularização demorou três anos. Ambas as histórias são verídicas e revelam como é importante lutar por seus direitos. "Tudo começa com um sonho e se transforma em realidade se não desistirmos de lutar. Não importa quanto tempo demore, porque sempre conseguiremos o que buscamos", diz Fernando. Requisitos para fazer a cirurgia - Tratamento multidisciplinar constituído por uma equipe de psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, cirurgiões-plásticos e/ou urologistas e assistente social, durante dois a quatro anos - Não ter doenças infecto-contagiosas - Não ter antecedente criminal - Ter 21 anos de idade - Passar por avaliação psicológica e clínica - Deve ser praticado o consentimento livre e esclarecido. Para que esse diagnóstico seja realizado, segundo exigência da CID-10, a identidade transexual deve estar presente, persistentemente, por pelo menos dois anos, e não deve ter sintoma de transtorno mental como esquizofrenia, por exemplo. *Confira a matéria sobre Transexualidade na íntegra na revista Psique Ciência & Vida no. 22 |
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on terça-feira, dezembro 11, 2007
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