Chega de silêncio: Praias de Florianópolis abrigam crimes contra as mulheres  

Postado por Felipe Bruno Martins Fernandes

 
 
Em meio ao clima de férias, verão, praias lotadas e satisfação do setor turístico, tem-se a impressão de que as belas praias de Florianópolis são lugares isentos de problemas ligados à segurança pública. E é em meio a esta aparente tranqüilidade que situações de violência contra a mulher, que acontecem cotidianamente, permanecem silenciadas e distantes das prioridades do poder público.
Chamo a atenção para um triste episódio ocorrido na última segunda-feira, na praia Brava. Uma mulher estava correndo na praia, ao anoitecer, e foi atacada por um homem, que tentou estuprá-la. Ela reagiu, sofreu diversas agressões no rosto e em todo corpo, mas felizmente conseguiu escapar da tentativa de estupro. Assustada, chamou a polícia, contou o que havia acontecido e pediu ajuda para levá-la para casa, pois estava com medo de encontrar novamente o agressor. Porém, além da violência que sofreu, foi surpreendida pelo descaso da segurança pública, diante da seguinte resposta: "Polícia não é táxi, moça".
Só tive conhecimento deste episódio lamentável porque sou amiga da vítima e soube de toda história com detalhes. O medo, a raiva, a dor, a afronta à dignidade humana, são as únicas marcas que ficaram deste acontecimento. É oportuno dizer que o agressor não foi identificado e continua representando uma ameaça para as mulheres.
O caso é alarmante, porque não funciona de forma isolada. Outra mulher, na praia dos Ingleses, nesta mesma semana, teve um destino ainda mais trágico. Foi agredida, estuprada e morta, em um crime brutal que apavora e causa indignação às moradoras e visitantes da ilha.
Casos como estes se tornam ainda mais lamentáveis quando motivam perguntas sobre por que uma mulher teria saído sozinha à noite, que apenas reforçam posturas machistas e preconceituosas, considerando um pressuposto básico a existência de lugares e horários pré-determinados para homens e mulheres. Por vezes, este questionamento parece até funcionar como justificativa para atos criminosos como o estupro.
E impossível não se revoltar ou ao menos se sensibilizar com situações de violência, envolvendo pessoas conhecidas ou não, quando nos deparamos com a brutalidade e o desrespeito ao ser humano (neste caso, do sexo feminino) que caracterizam tais ações. Espera-se, no mínimo, que existam condições básicas de segurança nos espaços públicos e, no caso de algum crime acontecer, que a vítima conte com todo tipo de assistência e amparo legal. Lamentavelmente, o acesso a estes direitos elementares está longe de ser uma realidade nesta bela (e nem por isso justa) ilha.
Sabe-se que esta não foi a única – e, infelizmente, não será a última – vez que uma mulher é violentada. No Brasil, segundo dados do Portal Violência contra a Mulher, 69% das mulheres já foram agredidas ou violadas. Além disso, uma em cada dez mulheres sofre ao menos um estupro na vida, na maioria dos casos por homens conhecidos. E, ao se tomar como base os índices de agressões, tem-se uma mulher espancada a cada 15 segundos no País.
Diante disso, cabe a nós denunciarmos os casos de violência sexual contra a mulher e cobrarmos o compromisso do poder público com a segurança e a dignidade das mulheres. Afinal, somente superando o silêncio, lutando pela igualdade de gênero e pelo fim do preconceito e conquistando políticas publicas eficientes voltadas à garantia da cidadania plena das mulheres é que se pode romper com a tolerância em torno das práticas de violência.
 
Karina Janz Woitowicz

This entry was posted on sexta-feira, fevereiro 15, 2008 .