Annick Geille fala de namoro com a escritora Françoise Sagan, e outros parceiros, e reacende nostalgia em relação à antiga liberdade sexual e glória literária do país
Matthew Campbell
Uma ex-editora de revista está provocando furor nos círculos literários parisienses com um livro de memórias expondo o 'triângulo amoroso' que ela manteve com Françoise Sagan e o namorado da famosa escritora. O relacionamento entre Annick Geille, ex-editora da Playboy francesa, e a voluntariosa e errante Sagan era um segredo aberto em Paris. O primeiro relato detalhado sobre o caso provocou nostalgia entre os literatos, saudosos da época em que os escritores franceses eram aclamados mundialmente e pareciam ter vidas muito mais excitantes.
'Destas belas páginas exala o estranho perfume de um tempo perdido para sempre', escreveu um crítico sobre o livro de Geille, Un Amour de Sagan (Pauvert, 255 págs., R$ 81,36, somente em francês). A história poderia ter saído de um livro escrito pela própria Sagan: Geille queria que ela escrevesse um conto para sua revista, mas a secretária da escritora respondeu que isso seria 'muito, muito caro'. Quando Geille foi visitá-la, Sagan a convidou para seu quarto e a embebedou com vodca. 'Não nos desgrudamos durante meses - até mesmo anos', escreve Geille, que enfrentava um processo de divórcio quando as duas se conheceram.
'Tinha um quarto na casa dela e, pela manhã, vestia seu roupão.' Geille sentiu uma paixão instantânea por esta 'frágil mulher que cheirava a baunilha e cigarros de menta'. A atração era mútua. 'Ninguém jamais vai magoá-la de novo', disse a ela Sagan, duas vezes divorciada, no primeiro encontro. 'Tudo ficará bem. Eu raramente me engano sobre as pessoas.' No segundo encontro, não muito depois, Geille perguntou a Sagan se ela acreditava no amor. 'Está brincando?', respondeu Sagan. 'Acredito na paixão. Em nada mais. Não mais que dois anos. Ou talvez três.' Mas as coisas estavam complicadas na família de Sagan. A autora, que ganhou fama mundial ao publicar seu primeiro livro, Bom Dia, Tristeza, aos 18 anos, já tinha uma namorada. A estilista Peggy Roche passava a maior parte de seu tempo com ela.
Como se não bastasse, Sagan também tinha um namorado, que era casado. Bernard Frank, ensaísta obcecado por leitura e comida, aparentemente passava a maior parte do tempo no sul da França e ligava tão pouco para as convenções quanto Sagan.
'Casais são entediantes, não acha?', Sagan perguntou a Geille logo depois de conhecê-la. 'Fazer parte de um casal não os impediu (Roche e Frank) de ter relacionamentos com outras pessoas e isso não interferiu em meu trabalho ou minha liberdade.' Um dia Geille estava jantando com Frank e imaginou que fazia sexo com ele. 'Eu não cederia logo, seria excitante', escreveu. 'Françoise não diria nada, ela era totalmente favorável à livre circulação dos desejos, à sua liberdade imprevisível.' Naquela noite, eles tomaram drinques na casa de Sagan. Ela acabava de voltar de uma viagem com Roche. As mulheres pareciam perceber que Geille e Frank sentiam atração um pelo outro. 'Assim que percebeu o que estava acontecendo entre eu e ele, Peggy pareceu radiante', escreveu Geille. 'Ela disse: 'Agora você faz parte da família.'' Esse tipo de triângulo amoroso elaborado, cruzando os gêneros - mostrado por François Truffaut no filme cult Jules e Jim -, faz parte da mitologia cultural francesa. Por isso, o grande sucesso do livro de Geille não surpreende. Un Amour de Sagan, escreveu a revista Paris Match, tem 'alto valor literário. (...) Nas mãos de um narrador mais ingrato, o material teria caído na vulgaridade ou no sensacionalismo.' Os franceses, ao que parece, são fortemente nostálgicos - não apenas em relação à antiga glória literária, mas também à liberdade sexual representada por Sagan, que é tema de um longa-metragem francês que estreará em breve.
Além de sua vida amorosa não convencional, ela gostava de drogas e carros velozes e dava maços de dinheiro para mendigos. A saúde frágil evitou que Sagan comparecesse a um julgamento por fraude fiscal em 2002. Ela foi condenada a 12 meses de prisão com sursis.
Apelidada pelo escritor François Mauriac de 'monstrinha charmosa', Sagan foi acolhida nos Estados Unidos pelo escritor Truman Capote e pela atriz Ava Gardner. Quando ela morreu de embolia pulmonar em 2004, o site do Ministério da Cultura francês publicou um obituário extraordinariamente lírico: 'Ela guiava seu Jaguar descalça e queimava seu dinheiro em clubes noturnos de St.-Tropez. Desafiava a própria vida ao ser indulgente em seus prazeres, que acabaram por matá-la.' Dois anos depois da morte de Sagan, Frank morreu de ataque cardíaco quando jantava num restaurante em Paris. Sua mulher disse que ele discutia sobre política quando morreu. Roche já havia morrido de câncer. Quanto a Geille, ela deve ter aprendido alguma coisa com Sagan. Ela é hoje uma escritora de sucesso.
'Destas belas páginas exala o estranho perfume de um tempo perdido para sempre', escreveu um crítico sobre o livro de Geille, Un Amour de Sagan (Pauvert, 255 págs., R$ 81,36, somente em francês). A história poderia ter saído de um livro escrito pela própria Sagan: Geille queria que ela escrevesse um conto para sua revista, mas a secretária da escritora respondeu que isso seria 'muito, muito caro'. Quando Geille foi visitá-la, Sagan a convidou para seu quarto e a embebedou com vodca. 'Não nos desgrudamos durante meses - até mesmo anos', escreve Geille, que enfrentava um processo de divórcio quando as duas se conheceram.
'Tinha um quarto na casa dela e, pela manhã, vestia seu roupão.' Geille sentiu uma paixão instantânea por esta 'frágil mulher que cheirava a baunilha e cigarros de menta'. A atração era mútua. 'Ninguém jamais vai magoá-la de novo', disse a ela Sagan, duas vezes divorciada, no primeiro encontro. 'Tudo ficará bem. Eu raramente me engano sobre as pessoas.' No segundo encontro, não muito depois, Geille perguntou a Sagan se ela acreditava no amor. 'Está brincando?', respondeu Sagan. 'Acredito na paixão. Em nada mais. Não mais que dois anos. Ou talvez três.' Mas as coisas estavam complicadas na família de Sagan. A autora, que ganhou fama mundial ao publicar seu primeiro livro, Bom Dia, Tristeza, aos 18 anos, já tinha uma namorada. A estilista Peggy Roche passava a maior parte de seu tempo com ela.
Como se não bastasse, Sagan também tinha um namorado, que era casado. Bernard Frank, ensaísta obcecado por leitura e comida, aparentemente passava a maior parte do tempo no sul da França e ligava tão pouco para as convenções quanto Sagan.
'Casais são entediantes, não acha?', Sagan perguntou a Geille logo depois de conhecê-la. 'Fazer parte de um casal não os impediu (Roche e Frank) de ter relacionamentos com outras pessoas e isso não interferiu em meu trabalho ou minha liberdade.' Um dia Geille estava jantando com Frank e imaginou que fazia sexo com ele. 'Eu não cederia logo, seria excitante', escreveu. 'Françoise não diria nada, ela era totalmente favorável à livre circulação dos desejos, à sua liberdade imprevisível.' Naquela noite, eles tomaram drinques na casa de Sagan. Ela acabava de voltar de uma viagem com Roche. As mulheres pareciam perceber que Geille e Frank sentiam atração um pelo outro. 'Assim que percebeu o que estava acontecendo entre eu e ele, Peggy pareceu radiante', escreveu Geille. 'Ela disse: 'Agora você faz parte da família.'' Esse tipo de triângulo amoroso elaborado, cruzando os gêneros - mostrado por François Truffaut no filme cult Jules e Jim -, faz parte da mitologia cultural francesa. Por isso, o grande sucesso do livro de Geille não surpreende. Un Amour de Sagan, escreveu a revista Paris Match, tem 'alto valor literário. (...) Nas mãos de um narrador mais ingrato, o material teria caído na vulgaridade ou no sensacionalismo.' Os franceses, ao que parece, são fortemente nostálgicos - não apenas em relação à antiga glória literária, mas também à liberdade sexual representada por Sagan, que é tema de um longa-metragem francês que estreará em breve.
Além de sua vida amorosa não convencional, ela gostava de drogas e carros velozes e dava maços de dinheiro para mendigos. A saúde frágil evitou que Sagan comparecesse a um julgamento por fraude fiscal em 2002. Ela foi condenada a 12 meses de prisão com sursis.
Apelidada pelo escritor François Mauriac de 'monstrinha charmosa', Sagan foi acolhida nos Estados Unidos pelo escritor Truman Capote e pela atriz Ava Gardner. Quando ela morreu de embolia pulmonar em 2004, o site do Ministério da Cultura francês publicou um obituário extraordinariamente lírico: 'Ela guiava seu Jaguar descalça e queimava seu dinheiro em clubes noturnos de St.-Tropez. Desafiava a própria vida ao ser indulgente em seus prazeres, que acabaram por matá-la.' Dois anos depois da morte de Sagan, Frank morreu de ataque cardíaco quando jantava num restaurante em Paris. Sua mulher disse que ele discutia sobre política quando morreu. Roche já havia morrido de câncer. Quanto a Geille, ela deve ter aprendido alguma coisa com Sagan. Ela é hoje uma escritora de sucesso.
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on domingo, dezembro 23, 2007
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